quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Teimosia descalça



Eu sou teimosa. Quebrei minha cabeça e meu coração dos 15 aos 17, dos 17 aos 18, dos 19 aos 21. Confesso que, nesse último ciclo a minha teimosia me fez calçar um sapato que não me servia, pelo simples fato de que ele era bonito. Era o sapato dos meus sonhos, ou pelo menos o que eu achava ser. Minha teimosia apertou os pés e os machucou, para que eles se encaixassem em um espaço minúsculo, ao qual jamais pertenceriam.

Resolvi jogá-los fora, para que meus pés se curassem e, assim, eu recuperasse o equilíbrio.

Passada a dor e com os pés livres, resolvi ficar descalça e caminhar para longe daquilo. Porém, nessas andanças, mais uma vez, a minha teimosia me disse que, não mais sozinha eu ficaria, apesar de estar gostando de sentir os pés sujos do caminho, sem o mínimo de vergonha.

No caminho eu encontrei ele, com os pés descalços e também machucados. 
Ele também gostava de sentir o trajeto penetrando em sua pele, mas estava cansado de se manter em terra firme. Nos conhecíamos pouco, mas sabíamos que estávamos indo para o mesmo destino e resolvemos ir juntos.

Nesses sete meses de constante caminhada, eu conheci a pessoa que têm me feito descobrir o “amor descalço”. Ele não me julga, não tenta me moldar, porque ele também não usa sapatos. Ele me ama, apesar de todas as feridas que tenho em meus pés, porque sabe que eu também o amo, apesar das feridas dele. Ele não me induz a escolher outro caminho, porque nós escolhemos caminhar juntos, na mesma direção e, por isso, ele também sabe que se algum dia eu precisar de um atalho, ele seguirá tranquilo, porque sabe que nosso destino é o mesmo. No fim, chegaremos exatamente ao mesmo lugar para nos encontrarmos. 


Eu sou teimosa, mas que sorte, ele também é! Nessa nossa teimosia a gente se mostra um pouco mais, todos os dias, o que o “amor descalço” é capaz de fazer. Nessa nossa teimosia, nós seguimos caminhando distâncias físicas e emocionais para podermos nos encontrar. Nessa nossa teimosia, seguimos teimando com o destino, porque ambos sabemos que esse, só é possível se for ao lado um do outro. 

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Que horas são?

Você me disse para escrever, então eu tô escrevendo...

As coisas desmoronaram. 
Nós tentamos e por um momento eu achei que conseguiríamos ser tudo aquilo que eu tinha sonhado por um bom tempo. Você me preencheu de verdade durante essa eternidade que foi nossa vida útil. Eternidade não no sentido de lentidão. Eterno porque enquanto estávamos juntos cada segundo se estendia e se transformava em uma vida do seu lado. É clichê mas é verdade.
O nosso tempo nunca foi convencional.
Cada pedaço de segundo-de-vida-eterna me mostravam que eu tinha encontrado a pessoa que eu queria multiplicar todas essas eternidades. Mas em algum momento...
O relógio parou.
Ele parou e eu perdi a noção da minha vida. Literalmente. 
Eu vi meus planos, meus ideais, minhas paixões, meus objetivos travados em cima dos ponteiros. Eu não sabia mais o que fazer, já não sabia mais quem eu era porque tudo que eu comecei a construir a partir do nosso eterno, tinha sido planejado para realmente ser eterno com você. Eu já tinha programado tudo, mesmo me perguntando inúmeras vezes se eu também estava inclusa nos seus planos. Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, mas é que na minha cabeça, eu não precisava pensar em nada, se era uma coisa tão óbvia. Para mim. 
Relógio parado não serve para nada.
Guardei em uma gaveta e, apesar de gostar muito dele, eu entendia que ele já não tinha utilidade.
Fui viver minha vida sem contar o tempo.
Fui de mal a pior. Não conseguia me situar, ficava perdida. Acordada a noite e dormindo de dia. Vagando pelo eterno silêncio do relógio. Até que me acostumei. Redescobri que as noites eram realmente minhas. Minhas porque no escuro não dá pra enxergar nossas falhas e eu fui obrigada a me aceitar e a abraçar quem eu era. E eu gostei disso. Gostei de quem eu era longe da nossa eternidade. Gostei de ver toda minha valentia insistir em se mostrar bem. Gostei de ver meu nariz bem levantado toda vez que sentiam pena de mim. Gostei de me ver melhorar e reaprender a ser feliz sozinha.
O problema é que o relógio voltou a funcionar...
Mas infelizmente os ponteiros estavam descoordenados e a eternidade dos segundos agora os afastavam e os impediam de se encontrar. 
Agora é a hora que eu mudo o tempo do texto, já que de tempo eu entendo tanto.
Eles continuam se afastando e isso tá me doendo.
Eu te vejo, te sinto e tô tentando te segurar. Eu tô na ponta dos pés para te alcançar e puxar seu ponteiro para que a gente se encontre, mas não tá dando. Eu quero você na minha vida mas não posso te forçar a ficar. Eu espero que fique, mesmo que nosso tempo não seja o mesmo, mesmo que nossa eternidade seja agora distribuída em momentos, dividida em pequenos "para sempre". Mesmo que nossa hora não seja agora e mesmo que nossa eternidade eterna só comece daqui cinco anos, como já me disseram.
Eu espero que você fique para que juntos, nós possamos acertar esses ponteiros mesmo separados.
Eu espero que você fique para que de um jeito ou de outro a gente encontre as peças certas que façam esses ponteiros se reencontrar.
Eu espero que você fique, para que todas as nossas horas se transformem em dias, semanas, meses e anos.
Eu espero que você fique.
Se não ficar, a gente pode jogar esse relógio fora, ou então guardá-lo de novo.
O tempo costuma agregar valor às coisas. Quem sabe nosso relógio se torna uma daquelas peças de coleção que todo mundo quer ter, mas pouquíssimos tem a oportunidade de encontrar um, como nós dois tivemos. Se um dia isso acontecer, eu espero que a gente entenda que mesmo você sendo 10:00 horas e eu 22:00 horas (salvo o trocadilho), nós ainda representamos o mesmo número, apenas em turnos diferentes. Nós somos opostos, mas no fim das contas somos, queremos e sonhamos com as mesmas coisas e é isso que sempre nos uniu.

Então, que horas são?

"Darling you're with me, forever and always."


Laura. 



sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sobre ele





Ele apareceu.
Ele insistiu em mim e fez questão. 
É isso que as pessoas precisam: de alguém que faça questão delas; que mostre que elas são importantes, pois, às vezes, por mais auto-suficiente que sejamos, faz falta saber que nós fazemos a diferença na vida de alguém.
Ele abraçou meus defeitos e amou minhas qualidades. 
Me mostrou, como eu escrevi várias vezes por aqui, que eu realmente não era reflexo dos meus erros do passado. 
Ele me deu um amor que não doía.
Me ensinou que o amor não necessariamente é aquela coisa louca, que chega destruindo as paredes do coração e te deixando em lágrimas.
Ele me deu a serenidade.
Mostrou que o amor pode ser tranquilo, pode ser companheiro, pode ser cuidadoso, pode ser libertador, pode ser lar.
Ele me abrigou.
Me deu um lar seguro e calmo dentro do peito dele, aberto para eu sair e voltar a hora que quisesse. 
Ele foi paciente. 
Me ensinou que dependência não é amor; que comodidade não é amor; que insegurança não é amor; que amor mesmo é seu gato amá-lo tanto quanto você o ama.
Ele trouxe clareza. 
As dúvidas que eu tinha antes, quando disse que não era amor ainda, sumiram. Mas a certeza de que eu o quero em minha vida, permanece. Agora, no entanto, eu sei que quero ele na minha vida do meu lado e essa é a única maneira aceitável.

domingo, 9 de agosto de 2015

Certezas

Nossa história nunca foi simples. Contratempos, desencontros, perdas e desajustes rondavam tudo aquilo acerca de nós dois. Eu tentei, por inúmeras vezes te esquecer e apagar cada linha que nós escrevemos, mas a borracha não era capaz de corrigir uma marca permanente. Você me marcou e todo dia surge uma digital sua em mim. A gente é aquele tipo de gente que gente nenhuma fala que um dia vai ser "a gente". Hoje enquanto conversávamos, tentamos achar alguma coisinha que nos ligasse e a única que encontramos foi seu Sol e minha Lua em Câncer.
É difícil e ao mesmo tempo incrível ver que após toda essa distância entre nós o sentimento continua igual. Você me machuca, dilacera o coração e guarda-o no bolso, como quem guarda uma chave. Daí me solta, junta os caquinhos e me faz inteira outra vez só para ter-me novamente. E me têm. E nunca deixou de ter. 
Sou tua. Corpo, coração, fígado e alma. O cheiro da sua pele me faz acreditar em todos os sentimentos que um dia eu ousei duvidar. Você me preenche nas lacunas da sua fala. Te olhar é me sentir como um pintor admirando o seu trabalho. Do seu lado eu sou a minha melhor versão. Meu riso largo e os olhos brilhantes são o atestado de todos os fogos de artifício que estão estourando dentro de mim.
E eu te olho, te olho, te olho e só consigo pensar no quanto eu amo poder te olhar. Fico em transe e tento me conter, mas só consigo soltar um "Lindo", bem abobalhado. Você me causa reações que meu corpo desconhece. Você é tudo o que eu sempre quis. Você é o que eu tive por inteiro mas agora só posso ter em pequenas doses. Você é a certeza mais incerta da minha vida, mas ainda assim é certeza. Certeza de que tem coisas que por mais impossíveis que aparentam ser, foram feitas para, no fim das contas, darem certo e você é uma dessas coisas. Te amar dói, machuca, dilacera o coração, mas vale a pena, só para você me guardar no seu bolso e eu poder ficar coladinha em você, pelo menos em pensamento.


"All I want from you is a letter and to be your distant lover. That is all that I can offer at this time." 

Uncatena - Sylvan Esso

sábado, 2 de maio de 2015

Desacelerando

Eu não diria que é amor porque, de fato, não é ainda. É algo completamente diferente de tudo que eu já vivi, no entanto. É cauteloso, é despretensioso, é calmo, é tranquilo, faz o coração bater devagar. É a balança pro meu exagero, me contém e me controla, mas faz isso sem ter que mandar, sem ter que pedir. É por livre e espontânea vontade que eu acato àquilo que não é dito. Faço porque quero me adaptar, porque quero mudar, porque quero ser melhor e ter alguém melhor do que jamais tive.
É devagar que eu vou descobrindo cada pedacinho seu e me entrego nas pequenas coisas que você diz com sua voz baixa e macia. Você me ganha com poucas palavras e eu, sempre tão falante, por vezes me vejo sem saber o que dizer do seu lado, por medo de mostrar a qualquer descuido o que eu estou sentindo.
É como se eu te conhecesse há anos. É péssimo sentir isso, porque eu nunca confiei em ninguém com a velocidade que você me fez confiar em você e então eu me sinto tão vulnerável, mas, ao mesmo tempo, tão segura, por saber que você não usaria isso contra mim.
Eu me sinto confortável com você. Não tenho problema algum de perder a pose após alguns copos de vinho, ou mesmo em me deixar ser vista sem maquiagem. Não tenho problema algum em deixar que você me veja com o rosto todo amassado de manhã, pois eu sei que quando você acordar vai me abrir um sorriso independente de como eu esteja. E como é bom quando você é a primeira coisa que meus olhos veem pela manhã!
Você me inspira com sua determinação e seus sonhos tão bem desenhados. É bom saber que eu não estou perdida e sozinha nesse mundo tão cruel com os sonhadores.
Enfim... Você é o que eu precisava, mas nunca tive coragem de admitir.
Mesmo que isso não seja amor e mesmo que no fim das contas isso que a gente tem, sem nome, sem rótulo, sem endereço ou telefone, isso, não dê em nada, ao menos me fez perceber que o mundo tem muita gente boa espalhada por aí. Que eu não sou os meus erros e que minhas escolhas ruins em sequência não vão definir um padrão para minha vida. Você quebrou esse padrão sem sequer pedir licença. Você me tirou daquele buraco que eu mesma me coloquei e que cavava um pouco mais todos os dias.
No fim das contas eu cheguei à conclusão que eu te quero na minha vida, não importa como, mas eu só quero você aqui.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Melancolia

"We carry our prisons with us."


Eu e essa minha mania terrível de mexer em coisas velhas. Existem monstros escondidos embaixo de cartas e fotos que acordam com a procura por esses objetos e que ninguém em sã consciência gostaria de vê-los de olhos abertos. Mas eu, valente que só vendo, não tenho medo de tirar as feras do sono profundo. Mexo e remexo e faço barulho o suficiente para trazê-los a superfície e me assombrarem por horas, dias, meses a fio.
Cada um deles traz as lembranças de tudo que eu mais quero esquecer, mas que, ao mesmo tempo, não tenho coragem de abandonar.
Então, eu me deito em minha cama, puxo as cobertas para cima da cabeça para me esconder deles e, sozinha, vejo que não sou tão corajosa assim. Chego à conclusão de que eu preciso de alguém bravo o suficiente para mandá-los embora para sempre e assegurar de que eles não voltem mais. Que a minha valentia se torna fraqueza quando encara meus fantasmas frente à frente.
Só que eu nunca quis aceitar isso.
Na minha cabeça eu me bastava. Eu perdi pessoas por minha incapacidade de demonstrar fragilidade. Afastei todo mundo com meu discurso de super heroína. Grande heroína essa que consegue salvar à todos, menos a si mesma. Entreguei aos monstros como sacrifício, pessoas que podiam me libertar da prisão que eu havia me prendido e, aí, quando me dei conta, estava só...
Não é que eu esteja reclamando da solidão porque, de fato, ela me fez muito bem. Eu cresci muito, aprendi a andar com meus próprios pés, a pensar com minha própria cabeça e a me proteger com minhas próprias mãos. Só que essas mãos construíram muros tão altos que me isolaram do mundo real, por medo de me tornar uma vítima... Outra vez.
É quando eu começo a mexer nas coisas velhas para me sentir um pouco menos só. Me transporto para quando eu vivia o melhor dos dois mundos: a mocinha indefesa e a super heroína; a mulher independente e a criança que precisa de carinho; a solidão sanada com um telefonema para ele.
Daí em diante tudo acontece de maneira cíclica: fotos que acordam monstros de memórias, que me amedrontam, que fazem com que eu me isole de medo, que me lembram que eu não posso viver sozinha e que, principalmente, eu preciso de um caça-fantasmas. Ou de qualquer coisa que exorcize essas lembranças e sentimentos.